Um casal de influenciadores brasileiros ficou preso na Malásia após a chegada da pandemia e, indignado com a quantidade de lixo no país, decidiu iniciar um projeto ambiental no local. Andressa Karen Cunha da Silva, de 33 anos, e Flavio Araújo Mendes, de 36, ficaram mais de um ano no país e seguem implementando o projeto em outras nacionalidades.
Flávio morava em Santos, no litoral paulista, e Andressa em Recife (PE). O rapaz fazia um intercâmbio em Dublin, na Irlanda, quando conheceu a companheira. Eles começaram a namorar há seis anos e, no fim de 2018, decidiram viajar pelo mundo, compartilhando as histórias das viagens nas redes sociais.
“Estávamos cansados da rotina do dia a dia, e queríamos a liberdade que só uma viagem traz. Juntamos todo o dinheiro que pudemos e decidimos dar a volta ao mundo”, conta a pernambucana.
Em fevereiro de 2020, o casal decidiu conhecer a Malásia, com previsão de ir embora em uma semana. Contudo, a estadia durou mais de um ano. De acordo com Flávia, que é turismóloga, Mendes teve uma infecção no olho e precisou ficar mais alguns dias no país para se tratar. Após a melhora, já com passagens compradas para a Tailândia, eles foram informados sobre a chegada da pandemia de Covid-19, e que as fronteiras dos países foram fechadas.
Com a interrupção do plano de viajar pelo mundo, eles tiveram que encontrar uma nova atividade para fazerem juntos, e quando pararam para observar o local, se assustaram com a quantidade de plástico descartado erroneamente na ilha paradisíaca de Langkawi, que teve poucos casos de contaminação pelo coronavírus.
“Os moradores locais não têm consciência sobre poluição. O plástico é um problema muito grande. Para eles, é algo que já faz parte da cultura, desde quando o plástico se tornou um material muito barato. Mudar isso não será da noite para o dia, e sozinhos não conseguiremos isso”, explica o rapaz, que é formado em arquitetura.
Indignados com a situação e com tempo livre para um novo hobbie, eles decidiram criar o projeto ‘Purifying Trip’. O casal se dirige às áreas mais afetadas pelo descarte de resíduos, nas regiões para onde viaja, e inicia a limpeza do local, semanalmente.
“Nossa intenção é sair pelas ruas pelo menos uma vez por semana, em lugares onde há muito lixo, e recolher tudo que conseguirmos. Já começamos com nossas limpezas, que estão gerando resultados, mas o trabalho é duro, e conscientizar as pessoas será ainda mais”, diz Andressa.
A turismóloga esclarece que eles criaram perfis no Instagram e no Facebook para o projeto, onde compartilham as limpezas que fazem, a quantidade de lixo recolhida, e mostram um pouco da realidade por trás do trabalho.
Conforme contabilizado pelos viajantes, desde o início da ação, eles já coletaram dezenas de quilos de lixo. “Pode parecer pouco, mas 95% desse lixo é plástico, sendo a maioria sacolas, copos e canudos, que são bem leves”, conta Andressa.
Após a intensificação da pandemia, eles observaram que os itens que mais coletam são máscaras de proteção facial descartáveis. “Acreditamos que apenas pedir nas redes sociais não seria o ideal, então, estamos indo para as ruas fazer nossa parte. Vemos as pessoas passando e agradecendo por estarmos fazendo aquilo, e acreditamos que, mesmo que seja por um instante, conseguimos impactar os moradores dessas regiões que limpamos”, relata.
Partida
Em abril deste ano, o casal decidiu seguir em frente com o plano da viagem pelo mundo, levando, agora, um projeto socioambiental na bagagem. Eles explicam que o projeto se estenderá pelos países por onde passarem, e que têm a intenção de montar grupos voluntários e fazer parcerias com ONGs locais, para que as coletas tenham continuidade mesmo após irem embora.
Com a ação, os influenciadores, que já viajaram para Rússia, China, Áustria e vários outros países, passaram a ganhar reconhecimento e a receber ‘mimos’, como estadias em hotéis locais, em agradecimento por estarem limpando as regiões.
Flávio e Andressa relatam que precisaram sair da ilha de Langkawi por conta do término do visto de turista, que já havia sido estendido pelo governo do país. Agora, eles passarão o próximo ano na Turquia, onde já encontraram um novo inimigo: as bitucas de cigarro. Mesmo com as dificuldades ocasionadas pela pandemia, eles seguem trilhando um roteiro, cumprindo as medidas sanitárias contra a Covid-19 e acumulando, além de fotos, histórias de conscientização. “O ato de fazer o bem para a comunidade nos faz acreditar que, juntos, podemos fazer o mundo melhor. Se a gente não tomar a atitude de fazer, quem vai?”, conclui Flávio.
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